Em uma entrevista ao site UOL, pouco antes das semifinais das Olimpíadas, a recordista jogadora Formiga disse que trocaria qualquer medalha pela profissionalização do futebol feminino no Brasil. “Eu não teria medalha, mas o país ganharia muitas. Basta profissionalizar para que venha o ouro muitas vezes”, disse ela.
De fato, comparado aos países com mais medalhas olímpicas neste esporte, o Brasil não passa de um amador no futebol feminino. Não como seleção, mas como organização. Nós mal temos um campeonato nacional bem organizado: não há divisões como no masculino, o público nos estádios é ínfimo, o patrocínio é raro, dos grandes clubes são poucos os que têm time feminino, além da atenção da mídia ser mínima.
Para se ter uma ideia, países como Canadá e Estados Unidos possuem 4 divisões nacionais. Às brasileiras, resta competir por clubes geralmente pequenos nas poucas partidas do calendário anual.
Até 2007, as competições de futebol feminino no Brasil eram quase inexistentes. Haviam apenas alguns estaduais e a chamada Taça Brasil, que foi cancelada várias vezes e teve vários nomes. Neste ano, a CBF cria a versão feminina da Copa do Brasil, disputada por 32 equipes. O problema nela é que, ainda hoje, os times podem ser eliminados após realizarem somente 2 jogos, menos até que no torneio das Olimpíadas, que é considerado de curta duração.
Em 2013, com o apoio do Ministério dos Esportes e o patrocínio da Caixa Econômica Federal, foi realizado o primeiro Campeonato Brasileiro feminino, onde a situação melhorou um pouco: agora, os times jogam no mínimo 4 partidas.
Só para se ter uma ideia, na Série A do Brasileirão, as equipes masculinas jogam 38 partidas no total, sendo que às vezes jogam até 3 por semana. Além disso, a fórmula de disputa do campeonato feminino é igual à da Série D (quarta divisão) do masculino, só que com menos times.
Como dito anteriormente, não há divisões. Assim, os times femininos jogam um ano sem saber se estarão na disputa no ano seguinte. Os piores times não são rebaixados, nem os melhores (da Segundona) promovidos, o que afeta a qualidade da competição. Como não há apoio da mídia, o público mal aparece para ver os jogos, afetando também o equilíbrio financeiro do campeonato.
Com o sucesso da seleção feminina em 2016, que caiu nas graças do público, cresce a pressão para que a CBF faça um planejamento sério e melhore a organização do futebol feminino no Brasil. Mas contando que esta foi a quinta vez que elas chegaram nas semifinais olímpicas e muito pouco foi feito posteriormente, fica a dúvida se em 2020 elas terão que brigar novamente não só pela medalha, mas pelo reconhecimento de sua modalidade no chamado “país do futebol”.